Uma crônica de bordados afetivos para Viver Bem

Viver Bem gosta de mostrar o que está em alta entre os capixabas e no mundo! Muitas vezes compartilhamos e recebemos afeto e carinho. Desta vez vamos focar no compartilhar e convidar você para trocar breves palavras sobre os lenços dos namorados de Portugal. Uma crônica cheia de bordados afetivos!

LENÇOS ENAMORADOS

A lembrança que eu tinha da existência deles é de longe: minha mãe bordando em pedaços de cambraia uns caminhos coloridos que davam para uma abelhinha, uma flor, um coração, e estes em outras desenhos: uma estrela, uma lua, um sol. Às vezes eram tecidos grandes e se transformavam em toalha de mesa.

Quando menores e já com os desenhos em linha lustrada, eram usados para adornar os vestidos de verão que dona Iracema costurava para nós, cinco filhas.

Na primeira vez que estive em Portugal reconheci aqueles bordados pendurados em lojas de souvenirs. Comprei alguns e trouxe para a família toda.

Com forte referência portuguesa, minha mãe se emocionou, e a história  dos lenços foi tomando forma e origem para mim.

Já não são as jovens apaixonadas de Portugal que espalham as cores e mensagens carinhosas de outrora. Novos tempos, os lenços dos namorados, uma tradição portuguesa iniciada na região do Minho, agora são talhados por bordadeiras profissionais e trazem estampados também mensagens de solidariedade, de paz e de fraternidade. É o amor tendo desdobramentos para estar em dia com as necessidades sociais urgentes.

Não há quem, em visita a Portugal, não os conheça. São verdadeiras obras de arte em sua forma mais delicada  e que nos faz ficar ali, revirando a cabeça para acompanhar os caminhos que os escritos vão fazendo no tecido.

Uma viagem às nossas lembranças, guardadas  em algum lugar da nossa fazenda de momentos comuns da nossa vida, mas não menos memoráveis.

Na capital do amor, como é conhecida a pequena Vila Verde, encontramos, na Aliança Artesanal – onde trabalham as bordadeiras -, um silêncio concentrado nos pedaços de linho.

Ali ficamos sabendo que os  lenços começaram a aparecer por obra de uma bordadeira apaixonada, que  presenteava amigos com sua arte delicada e afetuosa. Contam-nos também que as peças são sempre únicas e podem levar até um mês para ficarem prontas.

Assim, recriando memórias, bordando sonhos e enfeitando corações, os lenços seguem sua tradição, de Portugal para o mundo. E eu sigo  aumentando minha  coleção  dos tais, pois embora tenha sido prendada para desafios, não resisto a caminhos que vão dar sempre com o colorido da felicidade.

Márcia Tourinho.