Tribunal aponta desigualdade na vacinação infantil entre cidades do ES

A vacinação do público entre 5 e 11 anos contra Covid-19 ocorre de forma desigual no Espírito Santo, segundo analise do Tribunal de Contar do Estado (TCE-ES). O órgão usou os dados do portal Vacina e Confia e identificou que, após dois meses de campanha, algumas cidade irão alcançar a meta de 90% de vacinação neste mês de abril. Já outras, como Pancas e Jaguaré, devem bater a taxa somente em novembro ou dezembro.

Ao investigar o quadro em âmbito estadual, o TCE-ES identificou apenas 42,20% das crianças foram imunizadas com a 1ª dose até o dia 18 de março. Porém, a meta é chegar a 90%, e esse atraso, segundo o TCE-ES, é causada por essa desproporção entre os municípios.

O menor percentual fica com a microrregião Metropolitana, com 39,4%. Segundo o Tribunal, essa situação é motivo de preocupação, pois essa localidade abrange sete municípios capixabas.

“Nelas se concentram 50% da população espírito-santense. A baixa cobertura vacinal em Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra, Viana, Vila Velha e Vitória pode impactar negativamente a taxa de vacinação de todo o Espírito Santo”, afirmou o TCE-ES.

PORCENTAGEM POR CIDADE

O município com maior parcela do público infantil alcançado foi Laranja da Terra, com 77%, seguido por Bom Jesus do Norte (70,4%) e Muniz Freire (68,6%). A Capital, Vitória, registrou 53,5%.

Já os municípios com os piores resultados foram Guarapari, com 25,5%, Marataízes, com 29,4% e Cachoeiro de Itapemirim, com 30,3%. A Serra, município mais populoso do Estado, tem o pior resultado da Região Metropolitana, com 33,1%.

Há desigualdades até mesmo entre municípios que fazem limites entre si. É o caso de Alegre (65,9%) e Cachoeiro de Itapemirim (30,3%) e de Serra (33,3%) e Santa Leopoldina (66,4%).

BAIXA VACINAÇÃO, MAS PORQUE?

O documento não aponta um fato exato como causa da situação, mas a principal suspeita recai sobre as noticias falsas. No relatório, a área técnica, gestores públicos e especialistas apontam a disseminação de fake news  como provocador de “receio infundado dos pais para levarem seus filhos à vacinação.”

Para combater esse possível cenário, o plenário determinou que o relatório de acompanhamento seja enviado para o Ministério Público Estadual (MPES) para apurar existência dessas fake news.

Outra motivação determinada pelo TCE-ES seria a falta de envolvimento escolar tanto para informar as famílias quanto para chegar aos alunos que ainda não foram imunizados. E uma terceira questão é a falta de agentes de saúde na busca pelos responsáveis que não levaram as crianças aos locais de vacinação.

“Isso representa uma baixa cobertura de Estratégia de Saúde da Família ou a inadequada utilização desses profissionais para chegar até esses ambientes familiares onde existem pessoas desse público não protegidas contra a doença”, disseram.

AÇÃO CONJUNTA PARA MAIS IMUNIZAÇÃO

Domingos Taufner, relator do processo, julgado pelo plenário do TCE-ES na sessão desta terça-feira (5), recomendou aos municípios o aumento de ações mais efetivas de forma a aumentar a adesão a vacinação infantil.

Uma delas é a parceria entre as Secretarias municipais de Saúde e as articulações intersetoriais para atingir os 90% previsto de proteção contra o vírus. Como um dos tópicos indicados para esse problema é a ausência de profissionais da saúde, de acordo com o Tribunal essa seria uma solução.

O Estado já realizou um mutirão com foco em crianças e idosos no final do último final de semana de março. Nela, a meta de 50 mil doses aplicadas foi batida, porém, como diz o documento, a porcentagem do público infantil não alcançou o número necessário para uma boa proteção coletiva

O processo também concluiu que há fragilidades ou até mesmo a ausência de articulação entre a Secretarias municipais de Saúde e a Secretarias municipais de Educação. Dez municípios afirmaram que não há participação dos setores públicos responsáveis pela educação na vacinação. Outros seis municípios afirmaram que essa participação se encontra abaixo do esperado.

Outra fragilidade encontrada é a falta de vacinação infantil além dos horários regulares. “26 municípios não realizam vacinação em horário noturno, e 3 municípios não o fazem nem à noite e nem aos finais de semana. De outro modo, 32 municípios realizam vacinação em horário noturno e em fins de semana”, relatam.

Durante a inspeção, 5 municípios não responderem (Baixo Guandu, Barra de São Francisco, Dores do Rio Preto, Santa Leopoldina, e São Gabriel da Palha), e houve uma parcial ausência de respostas em 3 municípios (Itapemirim, Montanha e São Roque do Canaã).

FISCALIZAÇÕES DA VACINAÇÃO

Esse processo foi iniciado em 2021 pelo TCE-ES para fiscalizar a imunização contra a Covid-19. Como parte dele, a área técnica já produziu cinco relatórios, que trataram do planejamento dos municípios para o processo de imunização, da fiscalização presencial da rede de frios dos municípios para o armazenamento e refrigeração dos imunizantes.

Inspeções em relação aos registros de vacinação nos estabelecimentos de saúde no território capixaba foram outro controle feito pelo TCE-ES.

“Um dos resultados constatados foi a adequação das redes de frios dos municípios, com a aquisição total de 145 câmaras refrigeradas, sendo que, com base nos dados do Painel de Controle do TCE-ES, existem no território capixaba 595 unidades de saúde. Também foram consertadas 3 câmaras refrigeradas. O custo total, somando aquisições e consertos, foi de R$ 2.257.038,80”, informa o documento.

“A vacinação contra a Covid-19 é uma ação que objetiva, além de prevenir a evolução da doença para casos graves ou óbito, restringir a circulação do vírus, o que também diminui os impactos sociais e econômicos causados pela pandemia. Nesse sentido, é desejável que taxa de vacinação evolua de maneira relativamente uniforme entre estados e municípios do país, de forma a evitar a existência de ‘bolsões de contaminação’”, destacaram os auditores.

Os auditores destacaram que a aplicação do líquido imunizador contra a Covid-19 diminui os impactos sociais e econômicos da pandemia. Devido a isso: “é desejável que taxa de vacinação evolua de maneira relativamente uniforme entre estados e municípios do país, de forma a evitar a existência de ‘bolsões de contaminação.”

O QUE FAZER?

A indicação do órgão para melhorar esse resultado é que cada cidade avalie as razões que impeçam o aumento da cobertura vacinal. Após a leitura da situação, elas então devem adotar atividades precisas de forma a superar as dificuldades.

Outras dicas direcionadas as regiões são:

• intensificar campanhas para o efetivo combate à desinformação em relação à vacinação infantil contra a Covid-19;
• avaliar a conveniência e oportunidade de ofertar a vacinação infantil aos fins de semana e em horário noturno;
• realizem o alinhamento de estratégias e objetivos das Secretarias de Saúde com as Secretarias de Educação, sendo institucionalizados mecanismos de comunicação efetiva, colaboração e articulação entre os envolvidos visando a aceleração da imunização infantil por meios de ações concretas tais como, busca ativa e realização de palestras nas escolas dentre outras medidas que as secretarias de forma colaborativa entenderem pertinentes.