“São necessidades alarmantes, é um povo que foi esquecido”, relata médica capixaba que atende Yanomamis

A capixaba Ana Caroline Marques, contratada pelo Programa Médicos pelo Brasil, é a única médica da UBS de Auaris, terra indígena Yanomami, em Roraima, região em que foi decretada emergência em saúde, pelo governo federal, na última sexta-feira (20).

Em entrevista a Rede Sim / Record News, ela falou sobre a rotina de trabalho na região e relatou a situação de extrema precariedade em que os indígenas tem passado, situação esta, que acontece há bastante tempo.

“Desde que eu cheguei aqui, há oito meses, recebi a apresentação sobre o distrito e as informações da situação epidemiológica. São inúmeros gráficos que mostram que a situação já acontece há muitos anos. No decorrer dos últimos anos isso foi piorando. Segundo os relatos dos profissionais que por aqui passaram, a assistência foi muito prejudicada. A gente tem número de profissionais reduzidos, estruturas precárias, falta de medicação, falta de insumos básicos para dar o suporte mínimo para essa população”, conta Ana Caroline.

A médica, e outros profissionais que atuam nas terras Yanomamis, relatam que diversas denúncias foram feitas, principalmente nos últimos quatro anos do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas que nenhuma solução foi apontada.

“É uma situação crônica e, infelizmente, as denúncias não foram ouvidas por vários anos. Agora a gente finalmente está conseguindo dar voz para essa população. Foram anos de negligências, anos em que várias denúncias não foram atendidas ou sequer ouvidas”, relata a médica capixaba.

Faltam insumos e faltam profissionais

Foto: Reprodução / Record News ES

De acordo com a capixaba, que também é indígena de Aracruz (ES), faltam profissionais para trabalhar nas regiões mais distantes e sobram problemas para dar conta.

“O ideal seria que a gente tivesse uma equipe completa, porém não é isso que acontece. Na maioria das vezes eu vou para o território com um enfermeiro, de três a cinco técnicos de enfermagem, algumas vezes eu tenho ajuda do microscopista, responsável pelo diagnóstico rápido de malária, algumas vezes ajuda de dentista e fisioterapeuta, mas não é algo contínuo. É algo que um mês eu tenho e só daqui quatro ou cinco meses que eu vou ter de novo. É uma equipe muito incompleta, numa complexidade de necessidades dessas comunidades. Temos diversos casos de tentativa de suicídio e uma vulnerabilidade muito grande em relação a saúde mental, mas é raramente que temos o apoio de algum psicólogo no território”, relata Ana Caroline.

A médica também diz que o momento agora é de dar luz ao problema e ajudar a população indígena que tanto tem sofrido nos últimos anos.

“São necessidades alarmantes. Vai muito além da situação de desnutrição e do problema ambiental. É falta de planejamento, estrutura da saúde, educação, saneamento básico. Esse povo foi esquecido e agora estamos conseguindo trazer à tona, para que a gente consiga mudar essa realidade”, conta Ana Caroline.

Confira a entrevista completa e os relatos da médica que atua na região: