Cinco lições da pandemia para a advocacia

O estado atípico de vivência causado pela pandemia corrente trouxe abruptas e conhecidas mudanças na vida da advocacia, que vão desde a (falta de) rotina no escritório, passam pelo atendimento ao cliente e desaguam nas restrições de atuação do Poder Judiciário.

O início, como de costume, foi de muito receio, mas passados 150 dias já é possível observar algumas bonitas histórias de superação de advogados e advogadas, que nos trazem boas lições e compartilho com vocês.

Uma, esteja preparado para momentos adversos. Esteja financeiramente preparado para momentos adversos. Sim, eu sei que não é fácil para a advocacia fazer reservas e contingências porquanto atravessam, sem dúvidas, o pior momento da profissão em sua história, especialmente no Brasil. Ao contrário do que muitos acreditam, a expressiva maioria da advocacia vive com o “dinheiro do mês”. E agradece!.

Entretanto, a crise desnuda uma necessidade de fazer um esforço ainda maior para conseguir ter reservas financeiras para os momentos de aridez do mercado e vamos precisar de jogo de cintura para superar esse momento.

Revise as suas contas, critique-as sempre, observe se não é possível uma economia com energia e água; atualize os planos de telefonia e televisão anualmente; se conseguiu comprar um carro, avalie se não é o momento de substituir por um veículo locado ou pelo uso do aplicativo e; se tem escritório, estude com carinho a possibilidade de compartilhá-lo ou de migrar para espaços de uso comum, muitas vezes até com mais recursos do que o seu espaço. A propósito, se tem um custo que ficou em “cheque” na pandemia foi o escritório diante do salvador “home office”.

A questão é que custo é como unha: cresce todos os dias! E precisamos sempre aparar para tentar termos reservas em fases duras.

Duas, seja fanático pela tecnologia e organização. Todos sofreram com o “home office”, cada um a sua forma. Porém, advogados e advogadas que já faziam uso expressivo da tecnologia e que já se organizavam, cada um a sua maneira, aguentaram melhor.

Sugiro que tenham seus processos, clientes e contatos registrados em sistemas de controle processual. Veja que existem opções gratuitas e online. Cobre da OAB apoio nesse tópico, pois importa!

A propósito, é interessante utilizar também dos sistemas de e-mail online (e gratuitos), pois aumentam a sua mobilidade no cotidiano.

Muitas das empresas que oferecem esse serviço também já oferecem ferramentas de reuniões telepresenciais gratuitas para determinado número de participantes.
Já é uma “mão na roda” para que a nossa atividade seja menos prejudicada.

Três, não deixe a alta especialização virar uma deficiência. A grande maioria dos advogados e advogados sonham em ser reconhecidos como o melhor numa área ou outra. É natural, já que a advocacia é uma profissão estritamente intelectual.

Entretanto, essa busca pela especialização não pode nos deixar de antolhos para uma série de problemas que os clientes que já estão em nossa carteira estão passando. Não estou aqui sugerindo que o advogado se aventure a fazer um trabalho que não tenha expertise, mas que se mantenha minimamente atualizado em áreas as quais não atende para poder identificar problemas e ajudar a solucioná-los, se o caso for com a ajuda de um profissional parceiro e que tenha proficiência no tema.

De outro modo, é essencial que o advogado esteja ampliando o seu conhecimento para questões que vão além do direito e que margeiam com a economia, contabilidade e gestão, pois são temas diretamente conectados com o resultado prático de aconselhamentos jurídicos em diversas áreas, desde o direito de família, passando pelo imobiliário ou trabalhista e chegando no direito empresarial, aonde se presume que esses conhecimentos são essenciais.

Quatro, escute o seu cliente. Mais que nunca a pandemia demonstrou a necessidade do advogado estar próximo do seu cliente, ouvindo as suas mazelas para a melhor solução das questões que enfrenta, mas também para aprender.

Um cliente engenheiro tem muito para nos ensinar na relação cotidiana sobre tecnologia e informação, por exemplo. Um cliente psicólogo leciona em conversa corrente e de forma despercebida sobre como devemos enfrentar as dificuldades do dia a dia.

Todos esses conhecimentos podem e devem ser assimilados para o uso do advogado em benefício próprio, mas também para o atendimento de novas questões de clientes com as quais se deparar.

Cinco, o ser humano sempre se adapta e supera sempre. A antropologia demonstra que a maior capacidade do homo sapiens é a sua habilidade insuperável de adaptação e superação por mais adverso que seja o contexto presente.

O clichê que afirma que a crise é uma oportunidade quer, em verdade, destacar a nossa grande possibilidade de rever nossos conceitos e pré-conceitos sobre a nossa forma de se posicionar perante colegas, clientes e o mercado de forma geral. O ensejo de sair da zona de conforto e procurar novos (e melhores) vôos.

Aproveitem para tentar procurar o lado positivo do distanciamento, como a possibilidade de acessar capacitações que antes só eram possíveis pela via presencial, atender clientes que eram geograficamente inacessíveis e, como adiantado, rever custos que achávamos que eram essenciais (escritório, por exemplo) e que hoje parecem flexíveis.

Assimile essa mensagem e, especialmente, transmita-a aos seus clientes. Estejam firmes, pois a crise irá passar e os mais resilientes sairão ainda mais fortes.