Advocacia: técnica e um pouco mais…

A produção intelectual sempre foi pressuposto essencial da boa advocacia e essa premissa serviu, ao longo da história, à imagem de que advogados obrigatoriamente produziam teses novas e possuíam uma exímia escrita com um rebuscado vocabulário.

Ainda hoje muitos pensam nesse formato, o que de toda sorte, não é mais a realidade de mais de um milhão e duzentos mil integrantes de nossa profissão no Brasil. Ouso afirmar, que não existe mais nenhuma profissão que esteja restrita e apegada ao seu status original do seu nascimento social.

Não são todos os engenheiros civis que continuam com a tarefa técnica de edificar prédios. Existem aqueles que ‘somente’ analisam as fundações, outros fazem ‘apenas’ os cálculos e outros tão ‘somente’ a revisão do cálculo. Da mesma forma o enfermeiro instrumentista nas cirurgias e o médico que ‘somente’ analisa imagens. Existem aqueles que não executam nenhuma dessas atividades, mas coordena a atuação concatenada de todos.

Neste contexto, as aptidões se tornam essenciais, as fundações seguram o prédio e os cálculos o fazem ficar firme para sempre, o paciente reduziu o tempo em cirurgia e o diagnóstico pela imagem fica mais assertivo.

O mercado empresarial por sua vez, está cada vez mais afastado da exclusiva análise de currículos e se aproximando cada vez mais com a autodeclaração de aptidões na busca de profissionais para determinadas funções estratégicas, isso porque as aptidões quando exercidas constantemente e naturalmente, se tornam imbatíveis na produtividade.

As profissões evoluíram não somente para absorver a quantidade de profissionais que cresce exponencialmente em todas as áreas (o que já seria justificável), mas para que o resultado final do conjunto dessas aptidões seja muito mais eficiente e seguro.

Também neste cenário de transformação está inserida a advocacia, mas, infelizmente, o apego ao tradicionalismo ainda traz resistência ao novo formato que a realidade exige. Passamos do tempo da especialização apenas pela matéria (que também não é obrigatória), e a meu ver, estamos entrando também no tempo da especialização por aptidões na advocacia.

Nesse caminho, a produção intelectual se torna ‘apenas’ uma das funções a serem exercidas com esmero, para que todos, ao final e a cabo, obtenham o êxito. Passamos pelo captador de cliente a qualquer hora e em qualquer tempo, temos o bom no atendimento e negociação que leva a um excelente contrato de honorários, temos a análise e diagnóstico, a produção da peça, o expert em tecnologias que salva a todos, o bom de fórum e de despacho, o que tem amor por audiências, e também os gestores de outros advogados e de procedimentos organizacionais.

O reconhecimento destas aptidões como elo eficaz ao resultado, traz a economia de tempo necessária para sermos mais assertivos no que somos bons em benefício dos nossos clientes. Precisamos reconhecer, valorizar e acima de tudo, respeitar o valor de cada peça fundamental ao exercício do nosso múnus público.

Existe um ditado que quando o rolo compressor do progresso vem para cima de você, ou você fará parte do rolo ou… da estrada. Chegou a hora do desapego às formatações tradicionais e respeitarmos as diversas modalidades do exercício da advocacia que o mercado implora para seguirmos prosperando.